Tendência em Pelotas para estimular o beneficiamento da matéria-prima, as agroindústrias estão se expandindo cada vez mais. Só nos últimos 12 meses, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) registrou 36 novos estabelecimentos do tipo. Em meio a tantos produtos feitos nesses locais, um vem se destacando por resgatar tradição antiga no município: o charque. A principal novidade é no local de beneficiamento dos produtos, que passa das grandes estâncias para pequenas instalações encontradas até no centro da cidade.

Oito das 48 agroindústrias existentes nas zonas urbana e rural de Pelotas produzem charque. Um destes produtores é Nilton Souza, responsável pela Minuano. A intenção ao construir uma agroindústria no mesmo prédio onde mantém um açougue era se adaptar à legislação vigente. Um decreto publicado em 2016 passou a exigir uma série de padrões para permitir o beneficiamento da carne.

Então, para continuar fabricando seus produtos, ele transformou a parte de cima do estabelecimento na pequena indústria. O empreendimento fica no centro da cidade. Os projetos sanitário, elétrico e civil foram feitos em conjunto com a própria SDR. "Se não fosse o pessoal da secretaria, eu não teria nem começado", afirma Nilton. Toda a adequação durou aproximadamente três meses e não demandou grandes investimentos.

A nova agroindústria tem capacidade para produzir de 500 a mil quilos por semana de linguiça, charque e processados. "O cliente hoje quer praticidade", acredita o proprietário, justificando a escolha dos produtos. O charque, segundo ele, tem boa aceitação e é um nicho pouco explorado. "Pelotas tem fama nacional no ramo. Apesar disso, existem poucos produtores na cidade", pontua.

Por enquanto, a ideia é abastecer apenas o próprio açougue. "O investimento compensa porque são produtos muito procurados", explica. Atualmente, são 15 funcionários, mas Nilton pretende ampliar o quadro. Os últimos meses foram de pouco movimento, admite, mas a projeção para os próximos é de vendas mais significativas.

Agroindústrias
A política municipal de agroindústria familiar foi instituída em julho do ano passado. Uma equipe da SDR visitou outras cidades e buscou subsídios para auxiliar os novos empreendedores. As referências, trazidas de Alegrete, remetem a produções simples e artesanais e que valorizam o homem do campo. A carne processada no estabelecimento de Nilton Souza, por exemplo, vem de criadores da cidade.

"É um meio de incrementar as produções e a renda das famílias", explica Telmo Lena, engenheiro agrícola da SDR. O município também é beneficiado. Só no ano passado, mais de R$ 1 milhão foi arrecadado em impostos. Outra mudança deverá ser vista na próxima edição da Fenadoce. No ano passado, apenas duas bancas da feira de agroindústrias familiares eram de iniciativas pelotenses. Neste ano, são esperadas oito.

O secretário de desenvolvimento rural, Jair Seidel, aposta nas agroindústrias como uma alternativa para manter o jovem no campo. "É uma atividade mais atrativa, menos perigosa e que remunera bem", considera. Até 2020 o objetivo é ter 80 empresas do tipo na cidade.

Sete passos para montar uma agroindústria
1 - Analisar a viabilidade econômica do local de instalação, respeitando o plano diretor da cidade
2 - Projetar a estrutura
3 - Obter o licenciamento ambiental junto à SQA
4 - Obter o alvará do Corpo de Bombeiros
5 - Firmar contrato com um responsável técnico (geralmente um veterinário ou técnico em agroindústria)
6 - Aprovar o projeto na SDR
7 - Obter o alvará sanitário com a SDR